quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Insetos condenados por furtar farinha em convento no Maranhão

Camera Press

Milhares de formigas acusadas de retirar farinha sorrateiramente da despensa de frades capuchinhos, em São Luís (MA), foram processadas por furto e danos ao edifício. Segundo a acusação, os túneis subterrâneos escavados pelos insetos poderiam colocar em risco a estrutura do convento. Os frades queriam a expulsão das formigas.

O julgamento - que ocorreu há mais de 300 anos, em 1706, em um tribunal eclesiástico na província do Maranhão - é narrado agora pelo juiz maranhense José Eulálio Figueiredo de Almeida no livro "O Processo das Formigas", lançado na semana passada.

O magistrado conta que escreveu o livro para mostrar as mudanças no direito e nas igrejas em 300 anos. "Antigamente, era comum animais ou objetos serem processados. E a igreja era a que mais processava animais", diz. Na época, não havia o entendimento de que os animais não tinham consciência do certo ou errado, e, como criaturas de Deus, os bichos eram submetidos à igreja.

Em 20 de junho de 1714, terminou o processo, que trazia uma acusação: “os roubos, que as formigas grandes e daninhas faziam na despensa da comunidade, mirando-a e afastando-a da terra, debaixo dos fundamentos, com que ameaçava ruína”.

Foi dado curador às “rés”, fez-se o autuamento, seguiram-se outras diligências. Os padres autores requereram a  “instauração de instância perempta”, foram As formigas foram citadas “em sua própria pessoa”, pelo escrivão do foro eclesiástico.

Na história, há casos de ratos excomungados e animais venenosos banidos por ordem de bispos, diz José Eulálio. Ele lembra que a serpente que convenceu Eva a comer a maçã foi condenada por Deus a rastejar para sempre.

Para escrever o livro, Almeida pesquisou em documentos que citavam o processo, já que os autos da demanda - embora seu valor histórico - desapareceram. É possível que os autos processuais tenham sido levados a Portugal, onde não foram mais localizados.

O tribunal eclesiástico chegou a nomear um defensor para os insetos. Ele argumentou que "as formigas não são malditas, nem ladras, pois agiam pela sobrevivência". Não adiantou: foram condenadas.
O autor do livro não sabe se a sentença foi cumprida.

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