terça-feira, 4 de setembro de 2012

Corrupção no Judiciário ficou mais exposta


 

A ministra Eliana Calmon chega ao final da gestão como Corregedora Nacional de Justiça com a sensação de que a corrupção no Judiciário não diminuiu nos dois anos em que denunciou as irregularidades nesse Poder.

Com 67 de idade, ela evita comentar a futura gestão de seu sucessor, ministro Francisco Falcão, de quem é amiga, e não faz coro com os que preveem uma atuação menos incisiva na Corregedoria do CNJ.

Eliana não se arrepende de ter dito que há “bandidos de toga”: “Faria tudo outra vez.” Diz que não pretende disputar uma cadeira no Senado. Seu projeto para a aposentadoria é filiar-se a uma ONG contra a corrupção.

O jornal "Folha de S.Paulo" publicou interessante entrevista, conduzida pelo jornalista Frederico Vasconcelos.

FOLHA - A corrupção no Judiciário diminuiu ou ficou mais exposta?


ELIANA CALMON - Ficou mais exposta. Não senti que houve uma diminuição.

FOLHA - Qual foi o episódio mais grave?

ELIANA CALMON - Um desfalque na Justiça do Trabalho em Rondônia de mais de R$ 2 bilhões. Há advogados envolvidos.

Um desembargador foi afastado.

FOLHA - A senhora teme retrocesso no combate à corrupção?

ELIANA CALMON - Não. Acho que o ministro Francisco Falcão dará continuidade ao trabalho. Ele empregava a mulher, a filha e a irmã em seu gabinete quando era juiz federal. Na época, isso era comum no Judiciário. Não era ilegal. Era a mistura do público e do privado. Hoje o nepotismo é proibido.

FOLHA - O atual corregedor do TJ-SP, José Renato Nalini, diz que a Corregedoria paulista serviu de modelo para o CNJ. A corregedoria paulista é eficiente?

ELIANA CALMON - Eu não posso dizer que seja de absoluta eficiência, porque São Paulo é muito grande. Mas a corregedoria paulista controla os seus juízes, coisa que não existe em muitas corregedorias.

FOLHA - O que a inspeção do CNJ no TJ-SP descobriu?

ELIANA CALMON - Encontramos algumas irregularidades na folha de pagamento. Uma servidora levava para casa o computador onde estavam os pagamentos aos desembargadores. Ela foi exonerada pela nova administração. Essa funcionária recebeu ordem de nos fornecer o material. Levou dois dias para cumprir.

FOLHA - Quais são as corregedorias mais ineficientes?

ELIANA CALMON - Mato Grosso do Sul, Piauí...

FOLHA - Qual o tribunal mais eficiente?

ELIANA CALMON - O melhor tribunal em nível geral é o Tribunal de Justiça de Sergipe. Tudo funciona muito bem lá.

FOLHA - Qual é a sua expectativa em relação ao CNJ sob a presidência do ministro Joaquim Barbosa?

ELIANA CALMON - Ele é rigoroso, muito ético. Em sessões que presidiu, substituindo Ayres Britto, vi que está antenado com o CNJ. Não tem conversa fiada.

FOLHA - A senhora se arrepende de ter dito que há "bandidos de toga"?

ELIENA CALMON - Absolutamente. Precisava ser dito, faria tudo outra vez.

FOLHA - A senhora alimenta algum projeto político?

ELIANA CALMON - Dizem que eu teria uma eleição ganha para senadora. Não tenho aptidão.

FOLHA - E na advocacia?

ELIANA CALMON - Não. Pela minha idade, acho muito penoso bater perna no fórum, fazer sustentação oral. Acho que não poderia fazer advocacia de lobby. Pelo meu perfil, ninguém iria me contratar (risos). Eu penso muito em me filiar, no futuro, a uma ONG na área de denúncias de corrupção.

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