domingo, 14 de agosto de 2011

Magistrada fuzilada foi, antes, defensora pública

Titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo desde 1999, a magistrada Patricia Acioli era a única que julgava processos de homicídio - e crimes correlatos - na comarca.

Conhecida pelo rigor na hora de inquirir os réus e por dar celeridade aos processos, ela considerava o crime cometido por um policial durante o serviço mais grave que o praticado por um cidadão comum.

- Ao cometer um crime, o policial gera na população uma descrença no poder constituído. O povo passa a procurar o poder paralelo e desacreditar o estado - disparou Patrícia, em entrevista ao jornal O Globo, em setembro do ano passado.

Nos primeiros anos de vida profissional, quando ainda era defensora pública, na Baixada Fluminense, Patrícia foi incumbida de representar parentes de vítimas de grupos de extermínio - muitos formados por policiais. Ela era vista com desconfiança por seus assistidos.

- Eles não entendiam direito. Na cabeça deles, passava a dúvida: como pode o Estado (a defensora) estar me defendendo, se foi o mesmo Estado (os policiais) que matou meu filho, meu marido? - contou Patricia na ocasião.

À época da entrevista, há onze meses, Patrícia Acioli já colecionava ameaças. Ela, no entanto, dizia não ter medo de decretar prisões. Apesar de não temer ameaças, a magistrada não permitiu, na ocasião,  que seu rosto fosse fotografado. Segundo ela, era "uma forma de preservar sua família".

- Não tenho medo de ameaça. Quem quer fazer algo vai e faz, não fica ameaçando. Ninguém morre antes da hora. Sei que, no imaginário popular, a juíza é quem faz tudo, mas é a polícia que investiga, são os promotores que fazem a denúncia e é o júri que julga - afirmou ela, tentando explicar a fama de durona que tem na cidade.

Ameaçada de morte por um agiota, que ela mandou prender, a magistrada recebeu meses depois um pedido de proteção feito por ele. É que após sair da cadeia, o agiota foi ameaçado por cúmplices.

- E ela deu proteção - contou o promotor Cunha Júnior.


Patrícia Acioli, 47 de idade, foi morta a tiros no fim da noite de quinta-feira (11). Ela dirigia seu automóvel e se aproximava da entrada do condomínio onde morava, no Timbau, em Niterói, quando foi atacada. Ela estava sem seguranças.

A Polícia acredita na hipótese de emboscada e crime encomendado. Ela estava em uma lista de doze pessoas marcadas pra morrer, segundo investigadores. O documento foi encontrado, em janeiro passado,  com Wanderson da Silva Tavares, o Gordinho, acusado de ser chefe de uma milícia em São Gonçalo, preso em janeiro deste ano em Guarapari, no Espírito Santo.

O carro da magistrada  foi atingido com pelo menos 21 tiros. Foram encontrados projéteis de dois tipos de armas - pistola 40 e 45 - no veículo. Os disparos teriam sido feitos por criminosos em dois carros e duas motos. O grupo fugiu. O veículo passa por perícia na Divisão de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, que está à frente das investigações.

De acordo com fontes da polícia, nos últimos dez anos a juíza foi responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio. A magistrada tem um histórico de condenações contra criminosos que atuam na cidade: são quadrilhas que agem na adulteração de combustíveis, no transporte alternativo entre outros crimes.

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