sábado, 16 de outubro de 2010

A crise moral da política

Ainda na ressaca do pleito de 3 de outubro, muitos invocam razões, as mais diversas, para justificar a significativa taxa de abstenção que, somada aos votos nulos e em branco, atingiu, no Maranhão, o altíssimo percentual de 35,25%, cravando o protesto e a indignação de 1.566,120 eleitores, superando, assim, a votação da vencedora da eleição majoritária para o Governo do Estado, Roseana Sarney, que obteve 1.459.792 votos no pleito. Antes de imaginar que o fato se deu por razões alheias à vontade do eleitor, é importante afirmar que o fenômeno expressou a decepção, a descrença dos cidadãos com apolítica e com os políticos. Foi uma resposta à hipocrisia, à falsidade dos políticos e à falta de coerência entre suas palavras e os seus atos.

Houve, de fato, uma intencionalidade no ato do eleitor de abster-se de votar. Se as causas da abstenção se situassem realmente na confusão causada em torno dos documentos necessários para votar, na questão do transporte dos eleitores, ou até numa tentativa, acobertada pela lei, de se impedir a uma grande parcela do eleitorado ao exercício do voto, estaríamos perante um problema de fácil – ou, pelo menos, de resolução não muito difícil.

Evidentemente que o problema da abstenção decorre da insatisfação do eleitor com o não cumprimento de promessas feitas por políticos, que quando empossados nos cargos apropriam-se do aparelho do Estado, com critérios viciados no compadrio, no clientelismo e nas relações que estabelecem com interesses privados e “lobbies” em todos os níveis da cultura de impunidade, dando origem à corrupção e aos grandes escândalos, causando, assim, o afastamento e a indiferença dos cidadãos perante a atividade política.

A alta taxa de abstenção não pode ser vista como um fato inesperado nas análises sobre o pleito eleitoral de outubro. Olhando para a realidade que se vive no Maranhão e no Brasil e para os números de eleições anteriores, constata-se que o aumento da abstenção é um fenômeno generalizado. O que passa na cabeça de muitos eleitores é que muito mais digno deixar de votar do que votar no supostamente menos pior.

A grave crise das nossas agremiações partidárias e da nossa política repousa em águas  profundas e está diretamente ligada ao crescente desinteresse dos cidadãos nos pleitos eleitorais, cuja sistemática não oferece ainda um controle político-democrático da sociedade, que não consegue detectar, como já foi dito, diferenças de fundo entre os políticos.

Há muito tempo os políticos esqueceram que cabe a eles impulsionar as mudanças que a sociedade deseja. Preocupam-se apenas com a engenharia eleitoral para obterem nas urnas os votos suficientes para se elegerem, deslocando a discussão política para o puro jogo de marketing e enganação.

Não são poucas as pessoas que estão enojadas da política devido aos desmandos dos seus supostos representantes. O sentimento – que não é gratuito – é de que independente de quem vencer a eleição a realidade político-social permanece inalterada. No poder, os políticos demonstram desprezo pela população, dando prioridade a vícios vantajosos que aumentam os níveis de corrupção, ou seja, de depravação moral da política.

O fenômeno da abstenção não pode ser ignorado, vez que ele está na raiz da crise de credibilidade por que passa não só os políticos e a política, como também o Poder Público e as instituições intermediárias entre Estado e o povo, que estão fraquejando no cumprimento da sua função. O tema merece uma reflexão, por estar inserido num cenário que desfavorece fatalmente o fortalecimento da nossa ainda tênue democracia.

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