sexta-feira, 25 de maio de 2012

O juiz que não gostava de processos


Ex-líder estudantil, hábil pensador, desenvolvedor de boas teses, justo e honesto - eram as características incontestáveis do magistrado de vara cível.

Mas ele tinha um defeito: era preguiçoso na jurisdição.

Ou - como dizia o presidente da entidade de classe - "um colega que não gosta de processos".

Operadores do Direito contam que quando os advogados se aborreciam com a demora na prolação da sentença, iam individualmente ao gabinete do magistrado onde eram recebidos com afabilidade. 

O juiz escutava com paciência, apontava para as gavetas de sua mesa e habitualmente dizia:

- Este processo está nas minhas próximas prioridades. Mas é um dos que ainda não está maduro para receber sentença...

Depois de duas ou três vezes ter escutado a mesma desculpa, um advogado - dirigente da OAB na época dos fatos - preparou o troco sutil: foi à feira-livre onde realizou determinada compra de produto sem agrotóxicos, caprichou na sacola e mandou ao escrivão para que, por favor, entregasse ao juiz.

Por fora, um envelope fechado. Dentro da sobrecarta, um cartão sutil: "Eminente Dr. Fulano...Com a expectativa de que o processo nº XXX - que Vossa Excelência ainda não sentenciou - amadureça antes que os presentes frutos que, como sincera mensagem de saúde, remeto a Vossa Excelência".

Sacola aberta, o conteúdo era um viçoso e grande cacho de bananas verdes.

Na semana seguinte, o magistrado deu a sentença.

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