quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pedido$ via torpedo$

É oficial: uma sequência de 23 torpedos enviados para os celulares de duas advogadas de Campinas (SP) é indício contra o desembargador Arthur Del Guércio Filho, afastado da 15.ª Câmara de Direito Público do TJ de São Paulo por suspeita de corrupção. As mensagens foram enviadas pelo número de celular do próprio magistrado e endereçadas às advogadas Maria Odette Ferrari Pregnolatto e Giovanna Gândara Gai, de um escritório de Campinas (SP).

Numa das mensagens, o magistrado informa que "foram suspensos alguns pagamentos de férias atrasadas a que tenho direito e isso me deixou numa situação aflitiva, por isso me atrevo a perguntar se a sra. poderia me emprestar R$ 35 mil por 60 dias, com o inconveniente que precisaria ser para amanhã."

Depois, insistiu. "Qualquer que seja sua resposta tenho certeza que nenhum de nós misturará as coisas, pois o pedido é pessoal, nada mais. Me desculpando pelo incômodo aguardo ansioso sua resposta. Abs."

A advogada Maria Odette, de 65 anos, integra o Tribunal de Ética da OAB de Campinas. Acumula 40 anos de experiência, como procuradora municipal e advogada. Por cautela, gravou as correspondências.

"Fiquei muito indignada. Não emprestei dinheiro e não respondi"
- contou ao jornal O Estado de S. Paulo.
Ela defende uma empresa em mandado de segurança relativo a questão de ordem tributária. No último dia 21 de março, o desembargador Del Guércio ligou para o escritório de Maria Odette e pediu a ela que fosse ao seu gabinete, no prédio do TJ da Avenida Ipiranga, centro da Capital. "Ele disse que estava com dúvida sobre a perícia contábil", relata a advogada. "Fui à sala dele, mas ali não falou sobre dinheiro. Mal deixei o tribunal e veio torpedo".

"Dra, bom dia (eram 11h50)", iniciou o magistrado. "Depois que a sra saiu tive uma péssima notícia e constrangido gostaria de saber se poderia me ajudar. Amanhã entraria um pagamento do tribunal mas ele só será feito no dia 5 de abril. O valor é 19 mil e 800 reais. A sra. poderia me emprestar esse valor até aquela data? Me desculpe pela amolação. Me dê um retorno, por favor."

Ao fim do texto, às 11h53, ele anotou. "Ah, já localizei o feito e o julgamento será simultâneo, mas sem qualquer relação com o meu pedido, creia."
 

Às 17h52 ele cobrou. "Dra, alguma posição?"
"Tenho medo do que possa ocorrer com meu cliente, mas como não podia tomar providências?", argumenta Maria Odette, que segunda-feira foi à presidência do TJ, denunciou o desembargador e entregou cópia da sucessão de torpedos.

Além de seu relato e do depoimento de Giovanna, confirmam a ação de Del Guércio outros três advogados a quem ele teria solicitado dinheiro.

Maria Odette disse que "nunca deu essa abertura" para que Del Guércio fizesse tal pedido. "Nunca vi uma coisa dessas e tem um agravante porque ele até assediou a Giovanna, uma advogada jovem e bonita."

O assédio está em duas mensagens a Giovanna, de 31 anos. A primeira, em 9 de maio de 2012, às 12h12. "Gostei muito de falar com você. Seu jeito meigo me cativou. Sei das grandes diferenças que existem em nossas vidas, mas posso lhe perguntar se não podemos almoçar juntos um dia desses? O que acha da ideia? Estou aguardando sua visita. Beijos."

No dia seguinte, às 9h40: "Giovanna, bom dia. Você não me respondeu ontem. Te assustei?"
 
 Também ouvida pelo Estadão, Giovanna diz que "é uma frustração grande".

O criminalista José Luís Oliveira Lima, que assumiu a defesa de Del Guércio, não quis comentar os fatos.

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