Os
advogados criminalistas americanos — e possivelmente seus colegas pelo
mundo — concordam que, ao encerrar sua palavra no tribunal do Júri, pode
ser uma boa ideia mencionar aos jurados um ou outro ponto fraco de sua
defesa, que tenha ficado óbvio durante o julgamento. Segundo eles, se
não o fizerem, vão perder credibilidade, o que pode comprometer o caso.
Nessas situações, o uso de conjunções adversativas durante o discurso
pode ser a chave de uma sustentação oral eficaz.
O advogado e
professor de Direito Elliott Wilcox, que se declara "apaixonado" pelo
tribunal do Júri — a ponto de, às vezes, ir julgamentos apenas para
assistir —, afirma que há uma técnica para fazer isso: "Comece forte,
comente sobre o ponto fraco da defesa no meio e termine forte". A
receita, diz, ele já ensinou em faculdades de Direito.
"A atuação
do advogado no tribunal do Júri é uma arte, não uma ciência exata", diz
Wilcox. "Diferentemente da Matemática ou da Ciência, em que apenas uma
reposta correta é esperada, a arte pode produzir resultados
completamente diferentes sobre o mesmo assunto. Que o digam Picasso e
Dali, que usaram telas, tintas, paletas e pincéis para retratar a forma
humana, mas produziram obras bem diferentes", lembra o advogado. Para
ele, cada advogado deve desenvolver sua arte e seu estilo, levando em
conta que não existe um padrão internacional para a melhor sustentação
oral.
Há boas ideias. Uma delas é fazer as conjunções
adversativas — "mas", "porém", "contudo", "todavia", "no entanto",
"entretanto" — trabalharem em favor do advogado. Um "mas" depois de uma
declaração boa pode ter efeitos devastadores. Vale a comparação com um
jantar em que a namorada espera do namorado o pedido de noivado: "Você é
a pessoa mais maravilhosa do mundo, 'mas'", diria ele, para logo em
seguida trazer a notícia ruim. Em outra situação, se a conversa começar
assim: "Você não presta, 'mas'", aí vem notícia boa. Em qualquer das
formas, o que vem depois da conjunção adversativa é o que vai ficar na
cabeça da pessoa que a ouviu, por muito tempo.
No tribunal do
Júri, um "mas" como prenúncio de más notícias praticamente anula o
anúncio que acabou de ser feito sobre um ponto forte da acusação ou da
defesa, na cabeça dos jurados. Assim, o professor Wilcox sugere que se
abra o discurso com o ponto fraco e que, logo em seguinda, seja
desferido um "mas" bem pronunciado em cima dele, para apagá-lo — de
preferência, teatralmente expresso, para abrir a mente do jurado.
Outras
conjunções adversativas podem ser aproveitadas no percurso, quando se
aproxima a vez do argumento mais forte, que pode ser comparado com um
ponto fraco da outra parte. "A acusação (ou a defesa) tentou mostrar
que..., 'mas'", seria um exemplo.
Segundo Wilcox, uma conjunção
adversativa tem um efeito mais ou menos nesse sentido: "Coloque de lado o
que acabei de lhe dizer e considere isso (novo argumento)". A reação,
ele afirma, está na natureza humana. Quando a pessoa ouve um 'mas', um
'porém' ou qualquer construção gramatical do gênero, a tendência é
esquecer a primeira sentença e se fixar no que vem a seguir.
"No
entanto", essa pode ser uma técnica ruim nas alegações iniciais, diz o
professor. A esse ponto, os jurados não sabem nada — ou quase nada —
sobre o caso. E o advogado não quer ser o primeiro a introduzir em suas
mentes lados ruins do caso ou de seu cliente. Ao contrário, ele quer
exercer e maximizar uma forte imagem favorável a seu cliente.
Ao
final do julgamento, ele explica, quando todas as testemunhas já foram
ouvidas e todas as provas foram apresentadas, é hora de jogar com as
palavras, para transformá-las em armas a seu favor. É preciso lembrar,
"porém", que cada caso é um caso. "Não existe bala mágica" para
finalizar um julgamento, diz o professor. É preciso ter em conta,
apenas, que cada "mas", "porém", "contudo", "todavia", "no entanto" e
"entretanto" muda o curso do discurso. Melhor que seja a favor.
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