"É
preciso ver para crer". Para advogados e promotores que atuam no
Tribunal do Júri, a frase é mais que uma negação da fé. Ela representa a
aplicação de uma técnica eficiente de persuasão: a da apresentação de
imagens. Isso não é novidade, entretanto. Afinal, todos sabem que "uma
imagem vale mais do que mil palavras". Mas há quem acredite que mesmo
uma apresentação visual, organizada no Power Point, pode ser
tediosa para os jurados, de forma que podem perder ou esquecer algum
ponto importante. Por isso, com a ajuda da tecnologia e de designers gráficos, é melhor transformar a apresentação em uma espécie de show, muito mais interessante e, quiçá, inesquecível.
No
fundo, muita gente aprecia ter, na vida real, uma oportunidade de
repetir a famosa frase do personagem Joe Gideon, interpretado por Roy
Scheider, no filme All That Jazz. "It’s show time!" não deixa de ser um brado retumbante, com capacidade de resgatar o show-man
de dentro de uma mente tímida, que enleva o ânimo para cumprir bem a
tarefa de fazer uma apresentação. "Mas não é preciso exagerar", diz o
advogado Paul Sandler, há anos no métier. Ele escreve o blog The Art of Advocacy, ou "A Arte da Advocacia".
"É preciso criar um impacto visual, o que pode ser conseguido com a alta tecnologia disponível hoje e com a ajuda de designers
gráficos, porque eles podem criar maravilhas na sala do Tribunal do
Júri. Mas não é a sofisticação que conta e sim a forma com que as
imagens são usadas para persuadir os jurados", ele diz. A ideia pode ser
particularmente útil a advogados e promotores quando têm de se dirigir a
jurados com mentes de "São Tomé".
Sandler prefere usar uma
combinação de técnicas, com desde imagens gráficas mais simples, como
quadros e diagramas feitos em cartolina, dispostos em um cavalete, até
apresentações no Power Point e vídeos, com imagens high tech saltando de seu laptop
para a sala do tribunal. Para ele, tudo isso mesclado com as
tradicionais inquirições de testemunhas cria um show vívido, de memória
duradoura, na mente dos jurados.
É de conhecimento geral que as
pessoas tendem a acreditar mais no que veem do que no que escutam. Mas
pessoas diferentes processam as informações de formas diferentes. "Com
isso em mente, é melhor variar o tipo de apresentação de provas visuais,
para que sua mensagem seja recebida por todos os jurados", explica o
advogado.
De acordo com Sandler, alguns jurados são mais
receptivos a informações lógicas, diretas e objetivas. A eles deve ser
dirigida uma quantidade de mensagens expressadas em palavras, quadros,
gráficos e diagramas, isto é, um conjunto de argumentos técnicos. Outros
jurados são mais sensíveis a apresentações que trazem carga emocional.
Sob esse aspecto, fazem mais sucesso as histórias contadas, os exemplos,
as analogias familiares e recursos visuais como fotos, vídeos e imagens
no Power Point.
"Os juízes e jurados mais jovens estão
bem mais acostumados a provas e argumentos visuais do que as pessoas de
gerações mais antigas. Assim, pode ajudar muito maximizar o uso de
recursos visuais no julgamento", recomenda. Mas o advogado alerta que a
variedade é fundamental. "A uniformidade ou a monotonia reduzem o
impacto de qualquer apresentação. Balancear esses recursos é uma arte.
Faz parte da arte da advocacia."
"Os recursos visuais devem ser
usados como elementos de prova ou como instrumento de apoio a seus
argumentos. Nada mais que isso. Uma apresentação que valoriza apenas os
recursos visuais ou os efeitos tecnológicos pode ser um tiro pela
culatra. O juiz e os jurados irão notar, facilmente, que é uma artimanha
para acobertar a falta de conteúdo", avisa Sandler.
Ele
recomenda que antes do início de qualquer sessão no tribunal, o advogado
ou promotor chegue mais cedo e contate os auxiliares do juiz, para
entrar em acordo sobre a melhor posição da tela (ou do cavelete) e a
conexão dos equipamentos etc. Ele lembra que tribunais podem ter seus
próprios equipamentos para apresentações visuais.
A maior
vantagem de uma apresentação de Power Point, por exemplo, feita a partir
do laptop do advogado ou do promotor, é uma certa indisponibilidade do
material para seu oponente. Em apresentações visuais, uma parte pode,
como ocorre muitas vezes, usar os recursos visuais da outra parte, para
desenvolver seus argumentos. "Mas se o laptop é seu, depois de terminada
a apresentação, desligue-o. Frequentemente a outra parte acha
inapropriado pedir seu laptop emprestado, para usá-lo contra você", diz.
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