Jornalista
1 - O promotor Thales Schoedl, que matou uma pessoa e feriu outra no réveillon de 2004, ganhou ação de danos morais contra o jornal O Estado de S.Paulo,
que o chamou de "assassino". Segundo o juiz, o jornal não poderia
chamá-lo de "assassino", criminoso, "e dessa forma expô-lo ao leitor". E
fixou a indenização em R$ 62 mil.
2 - Daniele
Toledo do Prado, mãe solteira, formalizou queixa de estupro contra o
médico-residente do Pronto-Socorro onde sua filha Vitória, de um ano e
pouco, estava internada. Na semana seguinte, a menina morreu. A Polícia
acusou a mãe de provocar a morte da filha, com cocaína misturada na
mamadeira. A imprensa massacrou a moça, dando-lhe até um apelido: o Monstro da Mamadeira.
Presa numa cela com 19 mulheres convencidas de sua culpa, Daniele foi
espancada durante quatro dias sem que os guardas interviessem.
Resolveram matá-la: enfiaram-lhe uma caneta esferográfica no ouvido
direito, para perfurar-lhe o cérebro. Uma das detentas impediu o
assassínio; mas a caneta já havia perfurado o tímpano. Daniele ficou
surda do ouvido direito, com lesão neurocerebral, teve fratura do
maxilar e apresentou hematomas no corpo inteiro. A advogada e os pais
foram impedidos de visitá-la. Daniele ficou 37 dias presa - e, surpresa,
a tal cocaína na mamadeira não existia! As razões da morte da menina
eram outras, não a ingestão de drogas. As acusações eram falsas, a
imprensa se comportou indignamente, covardemente, confiando apenas em
declarações de otoridades, contribuindo para o linchamento de Daniele. Ela foi absolvida.
Qual
a indenização de Daniele, que não é diferenciada a ponto de merecer
tratamento diferenciado, que não pertence a corporações que cuidam de
seus privilégios? Sente-se, caro leitor: R$ 15 mil - menos de um quarto
do conferido ao promotor chamado de assassino. Mais R$ 414 mensais pela
invalidez. Um ótimo blog, Comer de Matula, conta a história toda, a história como ela foi.
Constituição da República, artigo 5º: "Todos são iguais perante a lei".
Adaptado de Revolução dos Bichos, de George Orwell: "Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros".
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