A
comissão de juristas que trabalha na proposta da reforma do Código
Penal realizou a primeira reunião do ano. Foram apresentados resultados
de discussões realizadas pelos três grupos responsáveis pelas sugestões
de modificações ao código (Decreto-Lei 2.848/1940). Apesar de ainda não
haver definição, os debates apontam para propostas como a possibilidade
de cumprimento da pena em cela individual, o fim do regime aberto e a
ampliação das possibilidades de aborto legal.
"A comissão adiantou os
trabalhos e, à medida que adianta, os debates profícuos vêm à tona. Não
gostaria de adiantar nenhum consenso ou quase consenso, mas já se sabe
que muitos tipos penais vão ser retirados do Código, vai haver ampliação
do aborto legal, o aspecto da eutanásia como homicídio privilegiado, o
da ortotanásia", disse o presidente da comissão especial, Gilson Dipp,
ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Muitas mudanças foram discutidas,
especialmente na parte geral, a que está mais adiantada e cujo
relatório final deve ser analisado na reunião do dia 9 de março.
Conforme explicou Dipp, na parte geral poderá haver a redução dos
regimes de cumprimento de pena. Dos atuais regimes - fechado,
semiaberto, aberto, e domiciliar - ficariam apenas o fechado e o
semiaberto. Também deve ser revogada a Lei das Contravenções Penais
(Decreto-Lei 3.688/1941), transferindo-se para o Código Penal poucos
tipos que possam ser considerados crimes, explicou o ministro.
Na parte geral, os juristas
também sugeriram o acréscimo de um parágrafo ao artigo 34 do Código
Penal, para garantir ao condenado o direito à ocupação de cela
individual, dispositivo já contido na Lei de Execuções Penais.
Como as mudanças propostas para a
progressão de pena levariam a uma maior permanência dos presos em
regime fechado, é necessário também pensar na dignidade dos condenados,
observou José Muiños Piñeiro Filho, ex-procurador de Justiça e
desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Segundo
ele, o próprio presidente do Senado, José Sarney, sugeriu à comissão
atenção especial à situação degradante muitas vezes identificada nos
presídios.
Outra modificação discutida pela comissão diz respeito ao tráfico de pessoas. Hoje, o Código Penal só abrange crimes desse gênero relacionados à exploração sexual, mas pode ser criado um tipo mais abrangente, conforme sugestão da CPI do Tráfico de Pessoas. O objetivo é criminalizar também o tráfico de pessoas para fim de trabalho forçado e para comércio de órgãos.
Nos crimes contra a liberdade sexual, a comissão
considera criar um tipo específico para introdução sexual de objeto,
além de reduzir a idade da vítima no estupro de vulnerável (atual artigo
217-A) de 14 anos para 12.
A comissão também fechou o
cronograma para suas próximas atividades. No dia 24, será realizada
audiência pública no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), quando
serão coletadas sugestões da sociedade, especialmente em relação aos
crimes contra a vida. Nesse dia, devem se manifestar entidades como a
Ordem dos Advogados do Brasil e associações de magistrados e de
procuradores. Os juristas da comissão também esperam propostas dos
tribunais.
No dia 9 de março haverá a última
reunião dos juristas para deliberar sobre a parte geral do anteprojeto.
No dia 30 do mesmo mês, será a vez de discutir a parte especial. No dia
13 de abril, ocorrerá um seminário em Aracaju (SE). Ainda será agendada
uma audiência pública conjunta com a Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ).
"O novo Código Penal, que está desatualizado com tipos penais lá de 1940, vai trazer uma nova faceta para a sociedade. O cidadão mais simples pode até não ter consciência de como lhe afetarão as modificações, mas vai sentir no dia a dia, nas suas atividades, que sua alguma coisa mudou", assegurou Gilson Dipp, ao final da reunião.
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