Francisco Faiad
Advogado e conselheiro federal da OAB
O
mundo não se cansa de gritar por transparência. É sadia e democrática.
Faz com que, além de tudo, haja estímulos para o exercício pleno da
cidadania. Só é contra a transparência, aqueles que de alguma forma
pretendem solapar os interesses públicos e coletivos. Se a transparência
prevalece, não há o que temer. Às claras, evita-se todo o tipo de
mazelas imagináveis nos porões da canalhice. A corrupção – o maior
câncer a ser extirpado da administração pública – não sobrevive à
transparência.
Na
qualidade de Conselheiro Federal da OAB, representando a bancada do
Estado de Mato Grosso, apresentei, no ultimo dia de fevereiro, uma
proposta de reforma do nosso Estatuto – Lei nº 8.906/94 - e do
Regulamento Geral da entidade, buscando extirpar qualquer forma de
sigilo ou segredo nos processos que tramitam na Ordem.
A
Advocacia não tem nada do que se esconder. O bom profissional será
sempre respeitado. O mau profissional será, consequentemente, depurado
dos quadros. Esse é um processo quase que natural na OAB. Como
ex-presidente do Tribunal de Ética da Ordem em Mato Grosso e também como
presidente do Conselho Seccional sempre vi prevalecer o senso de
Justiça na apreciação de tais processos.
Em
verdade, a transparência no julgamento do comportamento
ético-disciplinar dos advogados é mais um elemento que está a favorecer
de maneira direta ao fortalecimento da classe. Algo que jamais podemos
perder de vista. Haja vista que há tempos, o Brasil entregou a nossa
classe, congregada em sua Ordem, a tarefa de ser a grande guardiã da
democracia e do Estado de Direito. Portanto, nesse caso, não há espaço
para sigilos e atos secretos.
A
Ordem, a rigor, vem se pautando, há alguns anos, pela transparência dos
atos judiciais, tendo recebido respostas positivas tanto do CNJ quanto
do STF, a fim de se acabar com sessões sigilosas no âmbito do
Judiciário, seja para análise de promoções de magistrados, para escolha
de listas tríplices ou para o julgamento de representações
disciplinares. Essa abertura e transparência, inclusive, têm sido
adotada em órgãos do Executivo e do Legislativo, em seus processos
disciplinares. A manter o sigilo nos casos de ética e disciplina, a
Ordem estaria trafegando bêbada na contramão da história e dos avanços
democrático.
Muito se
dirá que o processo sem sigilo, envolvendo falta ética e disciplinar de
um advogado, poderá gerar constrangimentos indevidos, já que o advogado
inocente terá seu nome aviltado ou achincalhado, antes mesmo de um
julgamento. Não vejo assim. Por certo, havendo um processo ético em
andamento, e estando o advogado a respondê-lo, será de interesse de
todos, inclusive do processado, em obter, o mais rápido possível, uma
resposta do órgão da OAB, para, sendo absolvido, poder divulgar tal
decisão, demonstrando a ausência de qualquer ato antiético por si
perpetrado. Não há como, nos dias atuais, se manter procedimentos
secretos, escondidos.
Como
disse o ministro Carlos Ayres Brito em recente decisão do STF, a
Constituição de 1988 prestigia e eleva a transparência de atos públicos
em principio indispensável à cidadania, sem biombos ou paredes a
protegê-los. Esse é o primeiro intuito da proposta que encaminhei para
análise pelo Conselho Federal da OAB. O segundo tem o caráter de
exortação.
Uma vez
aprovada no Conselho Federal, o projeto vai ao Congresso Nacional para
promover as mudanças exigidas pela classe dentro de sua própria lei.
Será um momento em que a sociedade também, atenta, poderá debater a
extensão da transparência no serviço público. Deputados federais e
senadores terão a oportunidade ímpar de debruçar sobre o maior de todos
os calos seco que machucam a sociedade.
É
preciso, em verdade, seguir debatendo a transparência absoluta como
instrumento de verbalização do interesse público. Já se avançou muito
nesse sentido, mas ainda é pouco, a julgar pelos anões, mensalões,
sanguessugas e tantos outros esquemas já descobertos envolvendo o desvio
de dinheiro do contribuinte para enriquecimentos ilícitos. A proposta
que a OAB deve enviar ao Congresso é pedagógica. Quiçá, haja incitamento
para que mais e mais possamos avançar contra os vendilhões da dignidade
humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário